sexta-feira, janeiro 30, 2009

Hélio Gracie

Morreu Hélio Gracie, o criador do Jiu Jitsu brasileiro, comprovadamente a arte marcial mais eficiente que existe. Ele foi um homem que das suas fraquezas gerou uma força até então inimaginável. Se fosse fisicamente forte, não teria tido motivos para desenvolver todas as técnicas de alavancas que permitem que o menor e mais fraco subjugue o adversário. E o Jiu Jitsu Gracie é mais do que um complexo sistema de combate, é uma ferramenta de formação de caráter que mudou pra melhor a vida de muitas pessoas, inclusive a minha. Devo muito ao Mestre Hélio, que indiretamente, por meio da arte que criou, me ajudou a ser mais forte, calmo, disciplinado, persistente, resistente e corajoso. Minhas lutas pessoais, sociais, revolucionárias são também reflexo do que aprendi com as experiências que tive e tenho no tatame. Me despeço aqui do nosso Grande Mestre, e deixo meu profundo sentimento de gratidão.



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Abaixo, posto uma entrevista do mestre Rickson Gracie, para o site da revista Tatame, na qual fala sobre a morte de seu pai, Hélio, e a expectativa em relação ao desempenho de seu filho, Kron, (abraçado a ele na foto abaixo) no Campeonato Europeu de Jiu Jitsu que está acontecendo nesse final de semana, em Portugal:



Nos bastidores do segundo dia do Europeu de Jiu-Jitsu, que acontece em Lisboa, Portugal, Rickson Gracie passou todo o tempo cochichando ao pé do ouvido de seu filho, Kron, que se prepara para entrar em ação hoje na disputa do peso. Em conversa com a TATAME, Rickson falou sobre a expectativa para o desempenho do filho, que não luta desde o Mundial 2008, nos Estados Unidos, e comentou a morte de seu pai, o Mestre Hélio Gracie, na última semana. Confira abaixo o bate-papo com Rickson em Portugal.

Como você reagiu à notícia da morte do seu pai?

Em primeiro choque, por estar aqui de longe fazendo trabalho, vem aquele sentimento de perda da parte física, da companhia, do sorriso, do abraço... A gente chora um pouquinho, mas, passando essa onda imediata de surpresa e de uma dor bem terrena, vendo em uma perspectiva mais geral, a gente vê que o nosso grande Mestre fez a volta toda do círculo. Ele não só viveu 95 anos com saúde, como até mais ou menos uns cinco dias atrás, ele nunca tinha entrado em um hospital. Ele deixou um legado, um tesouro, completou todos os sonhos que ele tinha na cabeça, tanto pra ele quanto ver os filhos dele envolvidos. Ou seja, ele teve uma vida que só se pode agradecer. Quisera eu um dia chegar lá. Então não é uma coisa chocante, a gente tem que esperar que isso aconteça um dia, ninguém vive para sempre. Então, dentro dessa naturalidade um pouco mais espiritual, eu acho que agora ele se transformou realmente, se liberou daquele corpinho velho e cansado que ele estava, e agora ele vai estar aí vendo o neto lutar, vai estar impulsionando e desenvolvendo, dentro de uma forma espiritual, essa continuidade desse compromisso que nós, que amamos o Jiu-Jitsu, temos pra levar à frente. Então é uma coisa que é só amor, é só felicidade, agradecimento. É continuar nossa vida e mantê-lo vivo através do nosso Jiu-Jitsu.

Como você se sentiu em não poder estar presente ao seu funeral?

Me senti feliz de pelo menos estar aqui trazendo o neto dele para o que ele sempre amou e sempre fez. Se eu estivesse em uma festa nas Bahamas, se estivesse passeando de férias, eu ia estar realmente entalado, com um palito entalado na garganta. Mas, diferente disso, eu sei que ele saiu de lá e veio pra cá. Então é uma coisa que eu estou sabendo que ele está feliz, está dançando no céu com a família e os amigos que já se foram e está apreciando toda essa festa aqui, como ele gosta de ser lembrado, em cima de uma festa.

Como o Kron reagiu à morte do Hélio? Como espera que ele se saia no Europeu?

Evidentemente ele é um garoto, não tem a mesma evolução espiritual para entender uma partida, ele realmente sentiu muito, mas ele está muito bem treinado, muito bem focalizado e está sabendo que para representar, para dignificar e para tentar dar essa medalha pro avô, ele vai ter que recrutar todo o foco, toda calma, toda paz, toda serenidade e técnica que ele tem. Eu acredito que ele vai colocar tudo isso junto e vai ser um bom adversário pra qualquer um que esteja na frente dele, mas não se pode antecipar nada, pois a luta a gente resolve depois que bate o gongo. Estou aí por ele, vamos ver. Ele está bem preparado. Só estou ajustando cada vez mais preciso do que ele sabe fazer, mas isso desde garotinho.

Quais são os seus planos para 2009?

Os primeiros seis meses farei seminário pelo mundo, EUA, Japão etc. E no segundo semestre eu continuo fazendo em todo o Brasil, em São Paulo, Minas Gerais, Florianópolis etc. Vou continuar nessa sequência, porque vejo que o meu serviço não se enquadra mais dentro de uma bandeira. Vejo que eu, como uma referência do Jiu-Jitsu, com tantos admiradores e tantas pessoas que querem aprender o meu Jiu-Jitsu, estou compromissado a elevar o nível, compromissado a trazer uma visão completa do Jiu-Jitsu, que também não é só competição. Tem uma parte psicológica, que eu acho que é a formação do homem através do Jiu-Jitsu. E é baseado nesse serviço que eu vou me empenhar o resto da minha vida. Tenho uma luz dentro de mim que realmente começou a brilhar a partir do momento que eu me aposentei das lutas e estou me dedicando a servir através do Jiu-Jitsu. Isso é uma coisa que só está me dando alegria.

Qual a mensagem que você manda para os fãs após a morte de seu pai?

Para os fãs que competem ou que lutam e praticam o esporte, que continuem praticando, pois o professor vai estar vivo dentro do quimono de vocês. Para os fãs e amigos que não praticam, podem ter a certeza que o grande Mestre viveu uma vida feliz e completa, e que esse amor é exatamente a razão de toda a nossa existência. Acho que ele simplesmente saiu do corpo, mas Helio Gracie sempre foi e sempre vai ser o criador do Brazilian Jiu-Jitsu, o cara que realmente fez a diferença e que é a expressão máxima do que a gente faz hoje.


2 comentários:

Adriana Godoy disse...

São pessoas assim que marcam nossa vida e deixam rastros como estrelas. Abraço.

Anônimo disse...

Não conheço a fundo o mundo do jiu jitsu, mas Helio parecia passar um belo exemplo, a despeito de alguns rumos de certos pupilos (e que infelicidade terem surgido espécies como esses pit-boys)!

Mas com certeza isso são apenas as deturpações de um belo movimento, e ainda mais belo por ser brasileiro. Que siga forte a continuidade do exemplo!