terça-feira, outubro 14, 2014

A locomotiva do país

foto: Thomás RPO


A locomotiva do país passa por cima,
Dos pobres,
Dos negros,
Dos gays,
Da inteligência
De todos nós.

Em São Paulo, Feliciano sorri.
E em meio a uma massa de almas cansadas e gananciosas,
Dois homens são espancados porque se amam,
Porque se desejam, se abraçam, se beijam.
Porque existem.

A cidade não pode parar,
E se movimenta orgulhosa a 10km/h
Em um trânsito metodicamente enlouquecedor
Enquanto espalha tachinhas em ciclovias.

Em camarotes
Os vips ouvem Seo Jorge
Vaiam avanços sociais
Celebram a desigualdade
Porque podem pagar por ela
E quando a festa acaba e voltam pra casa
Trancam portas, ligam alarmes e sonham com facadas no baço.

Serra brindou com Alckmin
(Água mineral francesa refrescando a seca paulista)
Suplicy melancolicamente cantou pela última vez Blowin’ in the Wind
E orgulhosos os eleitores de Tiririca bradaram
Que nordestinos não sabem votar.

Criolo cantou que não existe amor em SP
E eu quase concordei.
Mas ele existe
Nos guetos
Nas favelas misteriosamente incendiadas
Debaixo das sombras das últimas árvores
E ele é plural e se chama "minorias".

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